Há algo de podre no cinema da Sérvia

Aqueles que estiverem no Rio de Janeiro (e tiverem olhos, estômago e uma cabeça preparada) poderão assistir no próximo sábado, 23, ao polêmico ‘A Serbian Film – Terror Sem Limites’, anunciado com grande alarde dentro da programação do RioFan Festival Fantástico do Rio 2011 que começa hoje e vai até o dia 24 de julho.

Sua notoriedade vem a partir de sua razoável carreira em festivais de cinema voltados a filmes de conteúdo mais explícito e chocante justamente por talvez fazer jus extremo a tais predicados. Para se ter uma idéia ele só foi exibido até agora fora de festivais ou mostras, ou seja, dentro de um circuito apenas no Reino Unido e nos Estados Unidos, ambos de maneira restrita. Na terra da rainha é o filme mais censurado nos últimos 16 anos desde ‘Nammavar’, sendo liberado para ser exibido após 49 cortes num total de 4 minutos e 11 segundos para então receber uma censura apenas para maiores. Já no caso americano ele recebeu da MPAA (Motion Picture Associaton of America), órgão regulador e em alguns casos pseudo censor como mostra o documentário ‘This Film Is Not Yet Rated’ o selo de classificação NC-17 o que seria para nós uma censura 18 anos por “extreme aberrant sexual and violent content including explict dialogue”.

O Ministério Público da Sérvia chegou na época a abrir uma investigação para saber se o filme violava a lei do país, sendo levantados elementos criminais contra a moral sexual e a proteção de menores. Na Noruega ele está vetado, na Espanha foi banido por ameaçar a liberdade sexual sendo impedido de passar dentro da XXI Semana de Cine Fantástico y de Terror além de render um processo ao diretor do festival Sitges, Ángel Sala, pela exibição de pornografia infantil. Na Alemanha o laboratório que fez as cópias que seriam exibidas precisou queimar todas elas após descobrir exatamente o seu conteúdo.

Casos como o de ‘A Serbian Film’ remetem aos vários problemas enfrentados por filmes como ‘Cannibal Holocaust’, de Ruggero Deodato e ‘Salò ou Os 120 Dias de Sodoma’, de Pier Paolo Pasolini em outras décadas.

Tanta e justificada controvérsia vem pelo fato do filme conter cenas de sexo e violência envolvendo estupro, necrofilia e pedofilia a partir da história de Milos, um ator pornô aposentado que recebe o convite para participar de um filme erótico de arte. Como precisa de dinheiro ele aceita sem imaginar que está prestes a participar de um snuff movie de sua própria vida.

Naturalmente é um filme para poucos, mas certamente pode abrir espaço mais uma vez para pensar os limites da representação da imagem e do corpo numa época onde ambos são cada vez mais fetichizados numa era que vai de ‘Jogos Mortais’ a Cam4 em apenas um clique. Resta saber se o filme realmente traz essa oportunidade ou se encerra meramente enquanto material gratuito e descartável.

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MATHEUS MARCO
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