Para não falar que não falei de Angles

Vazou. A palavra referida anteriormente pulsava na tela. “Vazou, vazou, não acredito!” Se minha mãe estivesse lendo isso agora, ficaria preocupada. Geralmente vazar não é muito legal. Maaas, quando se tratava de Angles, não há preocupação que minasse a minha euforia. Mesmo sem ainda ter ouvido uma faixa se quer, já estava feliz por dar adeus ao jejum que o The Strokes nos deixou, por cinco anos mais do que completos.



Com quatro discos na carreira, a fama de salvação do rock (na época de ‘The Modern Age) e um pouco mais de dez anos de estrada, o Strokes sempre agradou. Não sei se a imagem de queridinhos do rock ficou tão forte a ponto de a crítica só ser positiva ou se o trabalho é realmente excepcional, a ponto de agradar até mesmo os menos simpáticos ao estilo musical. Só sei que todo mundo que eu conheço, gosta de Strokes. Ou pelo menos diz que gosta.

Como já disse anteriormente, estava ansiosa pelo lançamento do disco. Baixei e já pus direto no Ipod (Gosto levar a música aonde vou e passar vergonha ao dançar por aí. Afinal, eu nasci para isso.) para ouvir a caminho do trabalho. ‘Machu Picchu’ achei incrível. A voz de Julian além de controlada, parece bem trabalhada. O som soa limpinho e ao mesmo tempo dá uma acelerada na freqüência cardíaca. Bom sinal.  Então, chegou ‘Under cover of darkness’, com batidas mais animadas e riffs de guitarra mais interessantes.

Essa já pode tocar por aí, pensei. Logo em seguida veio ‘Two kinds of happines’ com uma intro incrivelmente broxante. Depois melhora, melhora. Mais aí que comecei a sentir o disco. E senti medo. A pegada oitentista do teclado deixou a música pegajosa e enjoativa, só ouvi inteira porque achei precipitado desistir tão cedo, logo na terceira faixa.

Seguindo no meu caminho e com o disco, chega ‘You’re so right’. Me animei novamente. O sentido de urgência da combinação de guitarra (quase rara em alguns trechos)+vocal+sintetizador que a música traz, me trouxe uma singela falta de ar enlouquecedora, com aquela clássica finalização repentina, a mesma encontrada em ‘Juicebox’, ‘Ize of the world’, ‘Reptillia’, ‘12:51’  e etc.

‘Taken for a fool’ segue no mesmo barco, e segue bem. O baixo entra bonito e guitarra brilha, bem viva no refrão e nos solos, junto com o vocal de Julian, que me lembrou muito o Strokes do passado. Então, ‘Games’ com seu ar moderno e ao mesmo tempo melancólico, mostra que a capa do disco tem motivo. E um sério. (Embora o final da música me agrade, o começo é bem chatinho).

‘Call me back’ agrada na letra, (“Tell me, don’t tell me, the hard part is telling me, something that you are not likely to telling”). O vocal e a guitarra soando bem leve deram uma quebrada no clima electro-boring de Games, a música anterior. Além de tudo, “Call me back” é a minha favorita.

‘Gratisfaction’ começa como um fim de tarde cheio de cor. O vocal é alegre, a guitarra é animadinha. Mediana. Graciosa.

E as faixas finais, embora melancólicas, têm lá também sua graça. ‘Metabolism’, começa e termina bem. A parte instrumental é ótima, mas o refrão é um tanto quanto desestimulador. E ‘Life Is Simples in the Moonlight’ fecha o disco com a letra que talvez faça mais sentido no disco todo: (…) “He is coming from a part of hell/Where lightning blue eyes don’t go down well/He can tell that we’re oblivious/It’s addiction of routine as well”

O The Strokes ainda não esqueceu como se faz um bom disco. Mas o desânimo da banda deixou faixa a faixa soando como se ainda faltasse algo.

By Marina Rima.
marinarima@brrun.com

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The Strokes.
[Pics: ©advertisement.]