No último sábado, 05 de novembro, aconteceu no Playcenter o Festival Planeta Terra. É um dos poucos festivais que somam para a música indie no Brasil. E o BRRUN.COM esteve lá e viu de pertinho o que acontece na cena mais cool do país.
05/11 – 16h01
Criolo subiu ao palco. Com uma banda completa, de metais à percussão, entrou tranqüilo, mostrando o hiphop em uma esfera bem bossa nova. No repertório, muita brasilidade. Do tecnobrega à trilha do lampião, Criolo cantou e encantou. Surpreendeu. Trazendo a tona à realidade e a voz da vida na favela, emocionou com sua música. “Eu sou um homem livre. Pelo menos na minha poesia.” – bradava ofegante e inquieto no palco. Um dos melhores do festival. Banda, vocal e clima tudo em harmonia.
“Amor sempre”
17h30
Fome de Tudo abriu o show do Nação Zumbi, que entrou tímida no palco e começou sem muita energia. Jorge dü Peixe, soltou algumas reclamações de tocar no sol e a banda toda parecia truncada. O palco estava todo esfumaçado, o sol ardendo em infinitos graus e o nação lá… Tentando se encontrar. E se encontrou. Os solos de guitarra se fizeram frenéticos, o mangue ficou pesado e a sujeira dos riffs não escondia isso.
O coro do nação criava uma identidade muito forte com o público. Cantando em uníssono parecíamos mesmo zumbis, desvirtuados pelos timbres, pela fumaça, pela cultura manguebeat. No fim do show, vimos o verdadeiro Nação Zumbi. Representaram.
Nesta altura do campeonato, já havia suado bastante em meio à pequena multidão que se formava em frente ao palco. O público, bastante diversificado este ano, estava se aquecendo para as atrações internacionais. As próximas bandas seriam White Lies no palco principal e Garotas Suecas no palco indie. Mas, o plano fechou em andar de montanha-russa e comer. As comidinhas de “plástico” típicas desses eventos só não estavam menos agradáveis do que as filas para adquiri-las. Fila em tudo. Já eram 19h49 e ainda chegava mais gente para somar nas filas.
20h00
O Toro Y Moi subiu ao palco indie com os graves nas alturas. Fiquei bem na frente tentando enxergar e ouvir melhor. Problemas técnicos afetavam a banda (assim como o festival todo), mas ainda estava dando para curtir. O eletrônico predominava e enlouquecia o público, que dançava animado.
20h30
Sai correndo do palco indie rumo ao palco principal, pois 20h30 o Broken Social Scene começava a tocar. Big bands são incríveis de ver ao vivo, devido à interação incrível que elas geralmente têm. E no BSS não foi diferente. Quatro guitarras em palco, Lisa Lobsinger nos vocais. Aliás, ela é mesmo um poço de candura. A voz delicada, o jeito despretensioso… Um penteado diferente e o contorno da boca, que sempre me chamou a atenção no vídeo (pude ver bem de perto no telão) é mesmo cheio de graça. Achei que eles tocariam mais músicas do último cd, mas o BSS é uma banda “antiga”, cheia de repertório. Uns moleques de quarenta anos com uma banda com cara de colegial, muito talento e muito melodrama.
22h00
O Interpol subiu ao palco principal. Já estava lá esperando, cansada e um pouco desanimada pelo fim do show BSS – queria ter ouvido uma canção em especial. O show começou pesado. Desta vez, duas guitarras, um baixo, uma bateria, teclado. Esta linha mais “enxuta”, depois de uma big band, poderia ser desinteressante. Mas não. O Interpol mostrou que a maturidade dá qualidade. E embora o show tenha sido cheio de problemas técnicos, foi o melhor da noite. Paul Banks (de cabelo penteado) e banda fizeram um show sóbrio, enérgico e tocante. Não houve quem superasse.
00h45
A Beady Eye, banda de Liam Gallagher, ouvi a contragosto. Para pegar um lugar perto do palco no show do Strokes, vale tudo. A banda até que não era ruim, mas aquele vocal pegajoso, tal qual víamos no Oasis, permanecia. Liam cantava e depois parecia parar para conferir se a banda atendia às suas expectativas. Tinha bastante gente animada, provavelmente fãs de Oasis. De Beady Eye mesmo, não devia ter ninguém.
01h50
As costas doíam, mas quase nem estava sentindo mais nada. Estava num monobloco de mais ou menos 120 pessoas com os ombros sobrepostos. Cansaço! O The Strokes, atração principal entrava em cena com “New York City Cops” do seu primeiro disco. Pronto. Todos pulando, gritando, enlouquecendo. Eu vi bem a banda toda, deu até para reparar no desenho do boné de Julian Casablancas (vocal) uma águia. Mais umas quatro canções e a banda não havia se pronunciado ao público ainda, que gritava em histerismo: “Julian! Julian! Julian!” Eu estava sendo jogada para lá e para cá, sem conseguir ouvir a voz de Julian e sofrendo para ouvir o instrumental que o público também dublava. Foi difícil. As versões das músicas ao vivo ficaram bem parecidas com as de estúdio, superando-as até. O show foi muito bonito, Reptilia quase matou-me do coração, assim como quase todo mundo. As músicas de Angles também ficaram legais, na lista “Machu Picchu”,“Under Cover the Darkness”, You’re so right. No fim, as músicas novas me agradaram mais, porque os fanáticos ao meu lado não sabiam cantar. Julian recitava as músicas, Nick Valensi tocava lindamente, mas sem empolgação nenhuma. Nikolai Fraiture (baixo) nem se manisfestou, assim como Albert Hammond Jr. (guitarra) e Fabrizio Moretti (bateria), nosso conterrâneo. Mas o Strokes fez um bom show. O melhor em qualidade de som. Um lindo repertório. Muita emoção. Muita emoção.
MARINA RIMA
marinarima@brrun.com
Fotos: Divulgação / Terra