My Minimal Is Not Baroque


Helmut Lang 93-03 – The Melanie Ward Years, Arena Homme +.

Sobre o pescoço, há uma cabeça, ou um caroço?
Curta e grossa, a poesia é de Marco Bastos, um dos escritores minimalistas de maior relevância no nosso país. Ilustração oportuna antes de escorregar pela linha do tempo de como esse movimento que influenciou todas as artes anda fazendo a cabeça de mais designers do que Francisco Costa possa imaginar.

Ahhh… Americaaa… Americanoooo! Pois foi nos EUA e com um artista também estadunidense que o minimalismo surgiu na arte contida e espartana de Barnett Newman e Mark Rothko – russo – ambos expressionistas abstratos, e se tornou fenômeno nos anos 60.


Balenciaga 67.

Pautado pela redução da variedade visual numa imagem, ou ao nível de esforço artístico necessário para produzir tal redução, o minimalismo tem como resultado uma forma de arte pura e livre, despojada de referências desnecessárias e sem apelo para a subjetividade.

Além de marcar a mudança do eixo artístico mundial da Europa para os Estados Unidos, se alastrou pela música, design, lingüística, literatura, e hoje também está presente no raciocínio lógico da programação, tablets e demais áreas da informática. Pasmem!

Em moda, podemos assumir um pré-minimalismo nos anos 20, via Vionnet e Poiret, ou nos anos 60 de André Courréges e Pierre Cardin… Mas a estética levou um pouco mais de tempo para se afirmar, porém em boa hora, limpando todos os excessos dos anos 80, como uma espécie de ruptura, refletindo a globalização e a revolução tecnológica.


Eduardo Garcia Benito, “L’heure du the,” La Gazette du bon ton, 20.

Na era pós moderna, de Aquário, onde o minimalismo chega niilista, Phoebe Philo resgata a estética na Céline (entre suas mudanças o logo voltou a ter acento), trazendo a marca de volta para os holofotes desde a saída de Michael Kors em 2004. A aposta da estilista, braço direito de Stella McCartney na Chloé no final da década de 1990, parece acertada até agora levando Phoebe a ganhar o CFDA de melhor estilista internacional. Outra marca que se repagina na nova era minimalista é a Jil Sander, no comando de Raf Simons, belga, que se decidiu pela moda após assistir um desfile de outro belga, Martin Margiela.


Helmut Lang F/W 88.


Helmut Lang F/W 93.


Jil Sander S/S 95.


Raf Simons F/W 95-96.


Jil Sander F/W 96.


Hussein Chalayan F/W 98-99.


Martin Margiela F/W 97-98.


Hussein Chalayan S/S 2000.


Helmut Lang F/W 03-04.

Desde 2006 Raf vem reconstruindo e fortalecendo o estilo andrógino e minimalista, com uma  alfaiataria abstrata  evidenciada por silhuetas gráficas, mas os cortes limpos das peças continuam sendo uma referência do vocabulário instituído por Sander nos anos 90. Admirador da fundadora, ele tem enorme respeito pela estilista, ainda que os dois tenham se encontrado por coincidência, apenas uma vez, dois anos atrás.


Jil Sander F/W 06.


Karen Elson in Jil Sander – Vogue US, April 11 e Amber Anderson in Jil Sander – Harper’s Bazaar España, May 11.

Outro nome que volta à cena minimalista é Hussein Chalayan. Nascido num lugar peculiar, Nicósia, capital da ilha de Chipre, se radicou em Londres e estudou na Central Saint Martins, berço de outros gênios como Galliano, McQueen, Stella, Tisci e Matthew Willianson. Pura vanguarda, suas peças são consideradas instalações artísticas. E prova disso são exposições que de Viena a Istambul vão até o Fashion Institute of Technology de Nova York, passando pelo Victoria & Albert e a Tate modern em Londres, chegando a Tóquio, no Museu de Arte Contemporânea no ano passado. Sendo que entre os dias 5 de Julho e 21 de Novembro, a próxima parada é Paris, no Musée de la Mode et des Arts Decoratifs.


Hussein Chalayan 2000.

Mas não há como falar de minimalismo sem citar Helmut Lang, hoje com 52 anos, se dedicando a arte, e não mais a moda, depois que sua marca foi vendida para o Grupo Prada. Sua influência continua a repercutir na comunidade de moda até os dias atuais, onde o minimal impera, sendo considerado um dos estilistas mais importantes de seu tempo.

Independente da marca ou estilo, o desejo da simplicidade surge da aversão ao exagero. Depois de temporadas de ostentação, finalmente faz-se o caminho inverso. E não adianta dizer que o minimalismo é resultado de recessões econômicas, ou fruto de uma entressafra criativa. Ele vai além. Às vezes, a moda precisa de um sopro, um ar fresco, um momento de sobriedade para que ocorra alguma reinvenção. Que excessos sejam aparados para que possamos valorizar o belo, despido de qualquer informação desnecessária.

Confira abaixo algumas fotos da exposição do Hussein Chalayan que rolou em Fevereiro de 2009 no Design Museum em Londres:

(Clique nas imagens para aumentar/Click images to zoom.)



FELIPE HICKIMAN
felipehickiman@brrun.com

Fotos: Divulgação / Arquivo BRRUN.COM