Midnight on BRRUN


Stella Tennant, Vogue US


“And I will be his God and he shall be my son. But as for the cowardly, the faithless, the polluted. As for the murderers, fornicators, sorcerers, idolators.
And all liars. Their lot shall be in the lake. That burns with fire and brimstone”

Madonna – The Beast Within

Para mim o lugar perfeito para estar em 31 de Outubro é um pouco inesperado. Mas fará sentido!

Sempre nesta época me vem à cabeça sem nenhum esforço o nome de Goya, Francisco de Goya, pintor espanhol. Vejo-me numa Espanha imaginária, entre 1746 e 1828, perdido, andando por ruas estreitas, construções precárias, sujeira e silêncio. Até que cruzo com Goya. Fugindo de mais um de seus pesadelos, ele me para e me convence a embarcar em mais um de seus devaneios.

Acredito que seus trabalhos mais significativos tenham sido suas gravuras, mais intimas, em preto ou ocre. A minha favorita é “Sleeping”, onde numa espécie de auto-retrato o pintor, exausto, adormece sobre sua obra, e como diz a própria ilustração: Os sonhos produzem monstros. Nela ele está cercado de corujas representando os pesadelos que se passam em seu inconsciente.


Sleeping – Francisco de Goya


As obras do pintor são repletas de cenas de festas pagãs, bruxas cruzando o céu à noite, monstros, sacríficos e torturas. Uma mistura do cotidiano desses anos negros da humanidade, onde prazer era pecado e sentir prazer era ser pior que pecador.


Freja Beha Erichsen and Arizone Muse, Vogue UK


O alvo (claro!), as mulheres. Verdadeiras encarnações e representantes do Diabo na terra. Não se deve confiar em uma mulher, elas são ardilosas e tem o dom de enganar. Frase essa que pode ter sido dita em dezenas, centenas de murmúrios em filmes da época.

Eram as primogênitas, as futuras guerreiras, mulheres que preparam terreno por milhares de gerações para que hoje, ser mulher não seja sinônimo de inferioridade.


Abbey Lee, Numéro


O principal fator que motivou todos os atos que vocês podem imaginar era o poder. Mas não o poder do “blue blood” ou de ouro e terras. O poder da sedução, do sexo, da indução, essa era uma das principais armas das mulheres desta época.
Os homens a temiam, pois não a controlavam. Eram dominados e se tornavam marionetes. E por isso as principais torturas, as punições, as formas  de obter confissões, envolviam torturas sexuais, e o corpo e a beleza eram sempre sinônimos de perigo. E mereciam ser contidos.


Lara Stone, Visionaire


Verdade ou mentira, ou fruto de uma história escrita por homens, o que as pinturas de inúmeros artistas que nos contam é em tempos de trevas, a magia, os ritos pagãos feitos em clareiras sob a luz da lua cheia eram momentos de diversão. De fugas no meio da noite para lugares onde as palavras trick or treat” ganhavam sentidos menos infantis.


Dior Couture Book by Patrick Demarchelier


A ideia central é levar a você o verdadeiro motivo desta comemoração, do que não deixava de ser um ponto de fuga da moralidade tão opressiva dos costumes católicos.


Arizona Muse, Vogue US


“… I was there in the beginning. And I was the spirit of love. Now I am sober. There is only the hangover. And the memory of love. And only the sorrow. I yearn for happiness
I ask for help. I want mercy…”

Madonna – Bittersweet

Hoje é uma noite para se maquiar e celebrar sim, a feminilidade e por que não a obscuridade e todos os mistérios da mãe terra?


Heidi Klum


FELIPE HICKIMAN
felipehickiman@brrun.com


Fotos: Divulgação