No primeiro dia do Fashion Rio Spring 2013, o grande destaque foi o desfile comemorativo de 40 anos da Blue Man.
Para não dizer que não falei dos 70’s
Se no Rio de Janeiro, a referência estético-cultural da década de 70 se idealizava nos cenários das areias brancas e do mar agitado da Praia de Ipanema (pense no Pier) em nossa primeira década do século, o desejo é transversal, plural e por excelência, democrático. Em se tratando de verão, nós brasileiros, percebemos o charme (in) discreto e a poesia única de nossas praias. Longe dos clichês autofágicos e da carnavalização medíocre que insiste em nos rodear, entendemos de verão – não apenas pelo clima escaldante e tropical de nosso país – mas por um motivo geográfico, territorial: ali onde o mar se quebra, se rebenta e se revolta é que se confunde/ inicia o nosso ponto de partida histórico.
Para não dizer que nesta temporada Fashion Rio – Spring 2013 – esquecemos de nosso saudosismo, a marca carioca Blue Man de David Azulay (in memorian), revistou aquilo que temos de mais interessante: a nossa história (e alguns estilistas, trafegam na contramão). Não afirmar que o passado é mais interessante que o presente, ou que superaremos em um futuro próximo, mas apontar que os sonhos e as utopias (pelo menos na moda) ainda não acenaram em uma despedida. Como as ondas do mar, desejos adentram um oceano e retornam para chão de areia, se desfazem.
Se soar previsível a homenagem ao idealizador da marca, não se desespere. O tempo não fechou. Em uma coleção pontuada por tons de neon, como laranja, rosa, verde e amarelo, os aplausos ao pôr do sol também servem para os corpos e as belezas das modelos-símbolos da marca nas décadas de 70, 80, 90 e 00: Rose di Primo, Monique Evans, Paulo Zulu. Vale mesmo identificar a pluralidade urgente da coleção. A diversidade de estilos de maiôs e biquínis, com modelagens asa deltas, cavadas, recortadas, cintura baixa, tops estruturados, detalhes de lacinho nas laterais e micro shorts mostram que a década do “desbunde” e da censura é só uma imagem, uma licença poética. A praia mesmo que a Blue Man transita – com maestria – é única. Aponta lá, não para o futuro, mas para o hoje, em que se fala da relação entre as décadas passadas e o desejo high tech de nosso tempo. Refresca-se na sombra e na coleção, a estamparia em neoprene com película de furta-cor que texturiza o material. Como as personas múltiplas que passeiam nas praias brasileiras, a moda é curiosa. Anseia como a nossa visão que mira a linha do horizonte: um vislumbre, uma chegada, um suspiro. Não sabemos ao certo o que vem, mas deduzimos observando os movimentos de um corpo, o mar.
Editor in Chief: Bruno Capasso
Text: Brunno Almeida Maia
Ilustration: Leandro Dário
Pic: Beto Urrick
Art Direction: Tiago Gomes
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