Freud em telas e em palavras

Foi em junho do ano passado que eu, por sorte, estava em Paris ao mesmo tempo em que acontecia a exposição do artista plástico Lucian Freud (1922), no Centro Georges Pompidou. Neto de Sigmund Freud, nascido na Alemanha e radicado na Inglaterra, ele é atualmente considerado um dos maiores pintores figurativos vivos.
De repente, a Torre Eiffel já não era tão mais interessante, a Champs Élysées não tinha o mesmo charme e os macarons não eram tão irresistíveis…
Todas aquelas telas que eu observava através de livros e pelas imagens do Google ganharam vida na minha frente. Não só por elas estarem presentes fisicamente, mas por que cada uma tinha vida própria.
Aqueles corpos monumentais retratados com frieza, as rugas, a intensidade das sombras, as peles caídas, os braços moles, o empasto da tinta, as clavículas saltadas, o peso dos corpos, os corpos expostos e esparramados… Não era apenas a realidade vista com crueza e sim, outra realidade.


Retrato de Leigh Bowery, artista performático e amigo do pintor.


Todas as obras do artista fizeram mais sentido quando li o texto escrito por ele em 1954, publicado na Serrote de número 7. Foi o primeiro e único texto do pintor que vive praticamente isolado, sem se manifestar e raramente aparece em público. “Todas as minhas alegrias foram solitárias. Detesto que me vejam trabalhar”, afirmou Lucian.
Assim como sua pintura, em que cada detalhe é imperdível e dono de uma potência avassaladora, toda frase que eu lia me causava impacto e uma alegria imensa de achar alguém que, em duas páginas e meia, conseguira resumir tudo o que sempre senti em relação à pintura.
“O pintor torna real para as outras pessoas os seus mais profundos sentimentos em relação a tudo o que lhe é caro. Um segredo é revelado a qualquer um que olhar o quadro com a mesma intensidade com que ele foi concebido”.


Retrato de Sue Tyller, 1995.

“(…) É essa compreensão que pode tornar a arte independente da vida – tal independência é necessária para que a pintura, com a intenção de sensibilizar, não apenas lembre a vida, mas inaugure uma vida própria, reflita a vida”.


Freud em seu atelier
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“Se o pintor conseguir colocar no quadro todas as qualidades extraídas do modelo, ninguém poderá ser retratado duas vezes”.

By Giulia Bianchi.
giuliabianchi@brrun.com

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Lucian Freud,
Centro Georges Pompidou,
Serrote.
[Pics: ©advertisement.]