Dando continuidade, a entrevistada desta vez é a Mme. Pascale Mussard, membro do Hyères International Fashion + Photography Festival.
Pascale Mussard by René Habermacher
“Pronta para brigar como uma leoa.” É difícil imaginar estas palavras vindas da boca de Pascale Mussard.
Mas, como diretora de arte em uma empresa muito especial, — Petit H — divisão da Hermès, ela sabe esperar o momento certo antes de partir para ação, e ao mesmo tempo, entretanto, mantendo um olhar para uma qualidade especial: o talento.
Petit H — Hermès
Acompanhe abaixo com exclusividade as principais perguntas feitas a nossa quinta entrevistada.
— Como o luxo deveria ser interpretado na obra de um criador jovem?
Pascale Mussard — Na Hermès, um objeto, uma criação, deve “falar”. Ele é nutrido pela alma e mão de artesão. Foi desenhado, criado, mimado, formado, sonhado, enobrecido, sublimado! Foi feito com respeito, amor e paixão. Os jovens criadores devem trabalhar com a beleza, usar a beleza. Nada supérfluo apenas, honesto em todas as etapas do processo: desde a concepção à produção. Como herdeiros de uma tradição nobre, as nossas iniciativas devem ser leais, mas temos que inovar essa tradição. Temos que mostrar o nosso otimismo e habilidade que já dura há tempo, e manter os horizontes abertos.
— O que você diria que é chave para a sustentação de uma marca de moda em um mundo como o nosso, que está sempre mudando?
P. M. — Inovação?
“L’obligation ardente de toute culture.” Hélène Ahrweiler
“A obrigação apaixonada de qualquer cultura.”
Integridade: nunca se esquecer dos nossos valores, de onde viemos e inventar objetos que vão durar muito tempo, que serão repassados e trarão alegria.
Continuem a dar continuidade na relação entre o homem e a sabedoria que fluí da aceitação da natureza e sua beleza imutável de utilidade, refletindo através de artesanato no significado dos objetos e a importância dos laços entre os homens.
— A arte em Petit H é tão colorida, divertida e feliz. Você acha que “feliz” é a palavra chave para a nossa moda atual? Para o nosso festival Hyères, você acharia a “felicidade” uma escolha vencedora?
P. M. — Meu tio Jean-Louis Dumas dizia: “Où que vous soyez , refusez de vous embêter, dans un milieu de qualité , ce serait du gâchis.” “Independente de onde você estiver, evite ficar aborrecido, em um lugar bárbaro, isso seria um desperdício!”
Você pode talvez não ser tão feliz quanto um jovem, mas a Petit H é de fato, ligada à infância, sobretudo na maneira de perceber objetos e materiais de uma maneira nova, deixando de lado os preconceitos. É uma luz constante, é um processo de criação livre, que faz da Petit H ser uma filha legítima da Hermès. Embora às vezes impertinente, uma criança que não para de crescer e ao mesmo tempo aprender sobre os materiais, as mãos que o criam, e os valores de uma Hermès. No Hyères, é uma equipe julgadora, liderada por um presidente muito inovador: o Sr. Y Yamamoto.
A felicidade é sempre um valor positivo para mim, mas a inovação, a fantasia e o talento são mais importantes.
— Trabalhar para uma casa tão histórica e de grande legado como a Hermès, como você encontra o desafio de alinhar as novas ideias com as habilidades do artesanato tradicional?
P. M. — Durante muito tempo eu trabalhei num local com artistas e designers. Então em 2009, o projeto realmente decolou e começamos a trabalhar com um gabinete repleto de materiais e artesãos que trabalhavam conosco (Na época: Gilles Joneman, Christian Astuguevielle e Godefroy de Vireu) no processo de recriação. As peças criadas foram então, submetidas à família e a toda direção artística, e finalmente o projeto foi aprovado para uma primeira venda, que correu muito bem, permitindo-nos continuar a crescer.
Um artista, designer, geotrouvetout — criador — é convidado por mim para vir até o atelier e mergulhar em um gabinete de materiais — os materiais são a fonte de inspiração para todas as criações — e a partir daí, trabalhar com todo acervo disponível. Estes materiais irão estimulá-los no processo criativo e na discussão entre os artesãos e designers para encontrar uma solução concreta, realizável e dentro da estética e procedimentos de acordo com os valores da Hermès. A criação na Petit H, acontece principalmente a partir de um diálogo entre as mãos dos artesãos, os materiais e as ideias do designer.
— Artesãos e designers não necessariamente têm as mesmas prioridades…
P. M. — Si vous écoutez vous finissez par entendre. Et un bon entendeur est plus facilement entendu… Se você ouvir, você ouvirá. E um bom ouvinte é mais facilmente ouvido.
Eles têm que ser capazes de trabalhar bem em conjunto, ser capaz de responder ao seu parceiro. Eu geralmente atuo sempre sendo a incentivadora. Eu encorajo o grupo e digo: “Nós nunca fizemos nada parecido antes, mas por que não tentar fazer?” Se os designers sabem exatamente o que eles querem, os artesãos têm que usar toda a sua memória, esperteza e todas as técnicas que eles conhecem. Atualmente nós estamos trabalhando em um urso de tamanho natural que será exibido na exposição em Berlim (23 abril — 12 de maio). O couro é dobrado, usando a técnica de origami — que é algo para nós completamente sem precedentes. O designer Charles Kaisin nos chama frequentemente para saber como estamos indo. Na última semana um dos nossos artesãos disse que achou que não seria capaz de confeccionar a ideia, mas, eventualmente todos em nosso atelier ajudam a encontrar um método que funciona.
Tem que acontecer uma sintonia entre o designer e o artesão. E se isto acontece com eles, eu estou preparada para defender o trabalho de ambos dentro da empresa como uma leoa!
— Qual foi a última coisa que você experimentou, viu ou ouviu que a estimulou?
P. M. — Recentemente tive a oportunidade e a sorte de visitar dois lugares realmente inspiradores: Naoshima (Japão) e Inhotim (Brasil). Dois locais que oferecem uma combinação única entre coleções de arte contemporânea e a natureza. Dois projetos maravilhosos: UM SONHO! O Brasil e o Japão são para mim dois países muito energéticos e inspiradores.
Um grande encontro que eu tive no Brasil em São Paulo, com o arquiteto Marcio Kogan. E no verão uma viagem maravilhosa e tranquila no Ladakh.
TEAM BRRUN
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Foto: René Habermacher © Copyright — Hyères 2012