Who created the ‘Creators’?


A Dior de Christian Dior.

Pierre Bordieu diz claramente em seu livro, Sociology in Question, que a imprensa é crucial na formação da identidade dos chamados “criadores”, seja em quaisquer áreas. Todavia, a razão pela qual a moda ainda não alcançou um reconhecimento no rol das artes reside na falta de uma tradição crítica. Somos excessivamente acríticos. Who created the ‘Creators’? Tal falta crítica implica numa supervalorização de algo demasiadamente fútil, em sua essência primeira, como conseguinte em uma supervalorização de egos nada modestos que não se enxergam mais como estilistas e sim como aclamados artistas. A arte da moda se tornou insignificante. Um vazio de inovação.

É neste pequeno detalhe que faz com que as grandes casas de moda busquem contratar consultores e não mais diretores criativos de “personalidades pessoais exageradas”, como afirmou Madame Rucki, diretora do Studio Berçot, em visita à São Paulo. Logo associamos a afirmativa ao caso Galliano e podemos questionar: o que de fato é a Dior?


A Dior de Galliano e sua teatralidade.




A Dior sem identidade própria.


Se por um lado Christian Dior ficou conhecido pelo retorno do luxo e da nostalgia na moda ao propor o new look – uma releitura da burguesia de outrora –, Galliano foi pela sua teatralidade e exotismo junto ao mal entendido de seus posicionamentos políticos. Diante disso, fomos testemunhas de uma catastrófica coleção de alta-costura da casa francesa, que apresentou um show cacófono à perda total da identidade de uma marca.


A Chanel apocalíptica de Lagerfeld – moderna e ainda Chanel.


Para citar alguns exemplos que se encaixam nessa nova onda temos Lagerfeld, que mesmo com sua personalidade extravagante, faz na Chanel o que é esperado: procura entender e manter o caráter da marca. Como? Revisitando ícones e propondo uma moda nova, mas uma moda Chanel. Há também a Prada, com a supervisão de Miuccia e o trabalho inesgotável de contestação de silhuetas e moods, muitas vezes copiada; e a britânica McQueen, na qual Sarah Burton busca manter as referências agregando a sua forma de produzir moda.



A inovadora Prada de Miuccia.


São novos rumos. É chegada a hora de se perceber que a “era das grandes estrelas”, como pontuou Madame Rucki acabou. E que essa necessidade da moda de se assemelhar e assimilar-se às artes provoca nela própria e naqueles que a fazem um status de plenitude inatingível, intocável. Mas se esquecem que a moda é senão efêmera, mutável. Antes de se perguntar se a moda é arte; se estilista, artista, gênio, vanguardista, über fashion designer, a pergunta que deve ser feita é: está a fazer uma moda boa ou simplesmente irrelevante?



A McQueen pela estética de Burton.


Como disse Monsieur Alaïa: “[…] it’s a one-way course towards emptiness. It’s inhuman.”

RAFAEL BACAROLO
rafaelbacarolo@brrun.com


Fotos: Divulgação/ Arquivo BRRUN.COM