Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso…
A matéria “THE NEW BLACK” chega para mim no momento exato, principalmente por conseguir agora ver além da imagem, do “diferente”. A febre baixou e posso agora tratar do assunto com seriedade, respeito e claro informação de moda.
Se vivemos constantes momentos de vozes gritando: “Existem poucos negros nas passarelas!”, foi graças a Tisci que o mundo voltou os olhos para as pessoas albinas em 2011.
A voz dos albinos nunca foi ouvida. Até que Tisci os redescobriu e conseguiu despí-los desse silêncio. Stephen Thompson foi o primeiro a surgir, na campanha da Givenchy Spring/Summer 2011 ao lado de Daphne Groeneveld.
Passamos a descobrir que são de certa forma uma raridade, uma em cada 17.000 pessoas são albinas. Na Tanzânia pequeno país da África Oriental chegam a somar 170 mil albinos.
Mas antes de perguntar se você sabe o que é o albinismo e talvez ouvir que são pessoas de pele extremamente clara e cabelos muito louros, vou explicar em poucas palavras o que o fenótipo não te conta.
O Albinismo é uma disfunção universal, ou seja, atinge tanto homens como mulheres e também os animais. Pode ser parcial ou total, mas a total é a mais frequente, os indivíduos possuem uma disfunção que não permite que suas células fabriquem melanina, enzima responsável pela pigmentação.
Por isso cabelos, sobrancelhas, cílios, são totalmente brancos ou de um louro muito pálido e os olhos podem chegar a ser rosados. Apesar dessa fragilidade aparente e dos cuidados com relação à proteção contra radiação solar a pessoa portadora do albinismo leva uma vida extremamente normal.
…Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa…
Mas o que com certeza você não sabia e que admito, fiquei em choque pela alienação e por nunca ter ouvido absolutamente nada a respeito, só descobri pelo aprofundamento no assunto, onde cada sigla, como um cadeado abria mais e mais a caixa de pandora africana.
A NOAH (The National Organization for Albinism and Hypopigmentation), UTSS (Under The Same Sun), AWA (Albinism World Alliance), TAS (Tanzania Albino Society) todas revelaram um grave problema, como sempre gerado pela pobreza e nutrido pelo preconceito. Em alguns países africanos os albinos são tratados como animais raros, relíquias, seres míticos e por isso são caçados, mortos e seus corpos vendidos em pedaços e são exportados como relíquia.
A crença religiosa é tão forte que chega as vias de sobrenaturalidade. Redes de pescar são tecidas com fios de cabelos albinos misturados a trama para atrair boa pesca e mineiros usam no pescoço pequenos amuletos feitos com ossos moídos. Enquanto ao sangue… Se bebido ainda quente traz sorte em dobro.
O papel dessas ONGs além de proteger e assentar os albinos como pessoas ativas na sociedade, ainda brigam por medicamentos mais baratos e pela alfabetização, pois a maioria acaba vivendo escondida sem sair de casa por conta de preconceito familiar.
Tão diferente, a Mother Fashion abriga e faz questão de expor todos os seus filhos. O diferente para ela é necessário.
Nunca ouve uma explosão tão grande de louras e louros platinados somado a outra fever, a das sobrancelhas descoloridas, e pode se dizer que o branco ou acinzentado é novo platinum. Jéssica Stam, Ginta Lapina, Agyness Deyn, Kristen McMenamy, Sasha Pivovarova e etc, pois a lista é enorme.
Existe ainda uma longa história para ser escrita na África, quem sabe a moda e não ajude a conscientizar as pessoas assim como Lea T. e Andrej andam fazendo por suas causas e suas diferenças. Aqui tão iguais e relevantes.
…Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde.
FELIPE HICKIMAN
felipehickiman@brrun.com