Foram onze dias de muito glamour e intelectualidade, para o bem ou para o mal de cada gosto, e assim termina mais uma edição de Cannes. Ela será lembrada por uma seleção oficial marcada em sua primeira metade por filmes que de uma forma ou de outra tratavam de questões que tendiam ao trauma, desvio e que por ventura desembocavam em violência ou sexo como nos filmes ‘Sleeping Beauty’, ‘Michael, ‘L’Apollonide – Souvenirs du maison close’ ou mesmo ‘We Need to Talk About Kevin’. Houve também as encenações particulares sobre temas de ordem quase metafísica, envolvendo a natureza ou manifestações que ultrapassam o concreto em casos como ‘Melancholia’, ‘The Tree of Life’ e ‘Hanezu No Tzuki’.
Além disso, é inegável o quanto será rememorada como a edição da despedida de Lars Von Trier do festival após suas declarações polêmicas na coletiva de impressa. Se como disse o próprio Trier em entrevista após o ocorrido, se o banimento é para sempre pelo menos servirá ao diretor o exercício de realizar seus próximos filmes, um pornô ao que parece, sem precisar pensar em Cannes durante a sua feitura como normalmente acontecia.
Vamos aos prêmios.
COMPETIÇÃO
O prêmio maior, a Palma de Ouro, desta 64ª edição ficou mesmo com o épico cosmogônico ‘The Tree of Life’, de Terrence Malick. Quinto longa do diretor americano, desde sua exibição no festival o filme gerou alguns comentários como forte concorrente ao prêmio, algo que veio a se confirmar. Malick, recluso e considerado tímido, não compareceu à coletiva de imprensa sendo representado por Brad Pitt, e naturalmente também não foi receber o prêmio que foi entregue aos produtores Dede Gardner e Bill Pohlad.
‘The Tree of Life’ se foca numa típica família norte-americana da década de 50 e seus três filhos, oscilando de maneira não narrativa com momentos metafísicos sobre a humanidade. O filme conta com imagens bem construídas que misturam virtuosismo formal com improvisos cênicos, segundo o próprio elenco, como na cena em que uma borboleta naturalmente pousa na mão da atriz Jessica Chastain.
Diferente do vencedor do ano passado ‘Loong Boonmee raleuk chat’ (Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives), de Apichatpong Weerasethakul, sua distribuição ao redor do mundo certamente será muito maior e mais efetiva.
O Grande Prêmio foi dado a dois filmes, ‘Bir Zamanlar Anadolu’Da’ (Once Upon a Time in Anatólia), de Nuri Bilge Ceylan e ‘Le gamin au vélo’, de Jean-Pierre e Luc Dardenne.
A Melhor Direção coube, segundo o júri, a Nicolas Winding Refn por ‘Drive’ que chamou atenção no recebimento do prêmio ao agradecer sua mãe que sempre disse que ele era um gênio, em suas palavras.
A Melhor Interpretação Masculina ficou para Jean Dujardin que recebeu o prêmio das mãos de nada mais, nada menos que Catherine Deneuve, pelo seu papel de estrela do cinema mudo no nostálgico ‘The Artist’, de Michel Hazanavicius.
A Melhor Interpretação Feminina ficou para Kirsten Dunst em ‘Melancholia’. Em seu discurso a atriz agradeceu ao festival por ter mantido o filme em competição. Coincidentemente Charlotte Gainsbourg, protagonista de ‘Anticristo’, filme anterior de Trier exibido em Cannes, também levara o mesmo prêmio na edição retrasada.
Melhor Roteiro de Joseph Cedar para ‘Hearat Shulayim’.
O Prêmio do Júri ficou com ‘Polisse’, de Maiwenn Le Besco.
UN CERTAIN REGARD
Emir Kusturica e seu júri, Elodie Bouchez, Peter Bradshaw, Geoffrey Gilmore e Daniela Michel, decidiram este ano premiar dois filmes com o prêmio da mostra Un Certain Regard. São eles ‘Arirang’, de Kim Ki-Duk e ‘Halt auf freier Strecke’ (Stopped on Track), de Andreas Dresen.
Já o Prêmio Especial do Júri ficou com ‘Elena’, de Andrei Zvyagintsev e o Prêmio de La Mise em Scene ou Prêmio de Direção foi concedido a Mohammad Rasoulof por ‘Bé omid é didar’ (Good Bye).
FIPRESC E OUTROS
Já a Federal Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESC) premiou três filmes presentes no festival em mostras distintas, sendo para ‘Le Havre’, de Aki Kaurismäki que estava em Competição, ‘L’exercice de l’État’ (The Minister), de ‘Pierre Schöller’ da Un Certain Regard e ‘Take Shelter’, de Jeff Nichols da Semaine de la Critique.
O Prêmio do Júri Ecumênico de Cannes foi para ‘This Must Be the Place’, de Paolo Sorrentino e houve também uma menção honrosa do júri novamente para ‘Le Havre’ e também para ‘Et maintenant, on va où?’ (Where Do We Go Now?), de Nadine Labaki, exibido na Un Certain Regard.
Enquanto isso o presidente do júri da Cinéfondation e Curtas-Metragens, Michael Gondry juntamente com os outros membros, Julie Gayet, Jessica Hausner, Corneliu Porumboiu e João Pedro Rodrigues, anunciaram os três prêmios da mostra. O primeiro foi para ‘Der Brief’ (The Letter), de Doroteya Droumeva, o segundo ficou com ‘Drari’, de Kamal Lazraq e o terceiro para ‘Ya-gan-bi-hang’ (Fly by Night), de Son Tae-Gyum.
QUEER PALM
A segunda Queer Palm do festival, criada na edição passada para premiar os filmes de temática LGBT, foi concedida a ‘Skoonheid’ (La Beauté), do realizador sul-africano Oliver Hermanus projetado em Cannes dentro da Un Certain Regard.
O filme mostra um marido bem sucedido, pai de duas filhas, que se leva por uma súbita atração e mudança de vida após um encontro casual com um jovem rapaz. A presidente do júri Elizabeth Quinn disse que o filme levou o prêmio por ser perturbador, radical e por tratar de temas como a homofobia e o racismo.
Assim termina mais uma edição do Festival de Cannes.
Au revoir le Palais.
By Matheus Marco.
matheusmarco@brrun.com
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Festival de Cannes.
[Pics: ©advertisement.]